Cultura da Mineiridade

A construção da imagem de Márcio Lacerda (PSB), candidato à Prefeitura de Belo Horizonte em 2008, a partir da cultura da mineiridade acionada pelo jornal Estado de Minas
Luiz Ademir de Oliveira
Natália Silva Giarola de Resende (UFSJ)

Resumo: O artigo toma como base a cultura da mineiridade para explicar o posicionamento do jornal Estado de Minas (EM), entre os meses de maio a outubro, nas eleições municipais de Belo Horizonte em 2008. O jornal busca legitimar a candidatura de Márcio Lacerda (PSB), intitulado o “candidato da aliança”, que conseguiu apoio de forças tradicionalmente antagônicas na capital mineira, o então governador Aécio Neves (PSDB) e o então prefeito Fernando Pimentel (PT). A polêmica e a inédita aliança foi mostrada pelo jornal como uma ideia política de conciliação e convergência acima dos interesses políticos, marca da cultura da mineiridade. Nesse ponto, o jornal torna-se ator político participando diretamente do processo eleitoral ao enfatizar o discurso de Lacerda como o do candidato conciliador.
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 A Visibilidade Eleitoral Construída no Estado de Minas: Três Momentos no Léxico das Disputas Discursivas dos Candidatos à Prefeitura de BH em 2008

Carol Argamim Gouvêa
Paulo Henrique Caetano

Resumo: Esse trabalho analisa a construção do discurso eleitoral dos candidatos à prefeitura de Belo Horizonte, em 2008, como veiculado na mídia impressa. Utilizando como corpus o jornal Estado de Minas e tomando como foco itens lexicais e dados de publicação do jornal, propõe-se um mapeamento das informações de forma a evidenciar dados que podem ser reveladores de práticas discursivas e práticas sociais (cf. FAIRCLOUGH, 2001) do veículo em questão. O período analisado foi dividido em três momentos, assim como em Oliveira e Caetano (2009), considerando os Cenários Político, Pré-eleitoral e Eleitoral, os quais foram explorados em suas especificidades no que concerne ao uso do léxico pelo jornal Estado de Minas.



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O Jornal Estado de Minas como Ator Político na Cobertura da Campanha de Leonardo Quintão à Prefeitura de Belo Horizonte em 2008 sob o Enfoque da Cultura da Mineiridade

Luiz Ademir de Oliveira 
Wanderson Antônio do Nascimento

Resumo: Na dinâmica política que permeia o processo eleitoral, a mídia assume um papel crucial na concessão de visibilidade e legitimidade aos atores políticos, que têm que se adaptar à lógica midiática a fim de administrarem suas aparições públicas de forma estratégica para alcançarem seus objetivos. Apesar da suposta imparcialidade jornalística idealizadas pelos meios de comunicação, sabe-se que se trata de um mito arraigado mesmo na própria sociedade, que acaba por dar credibilidade a informações ou veículos de mídia que, muitas vezes, estão permeadas por interesses de quem as produz. Assim, a mídia desempenha função estratégica na ampliação da esfera pública.

Baseando-se nesse argumento de centralidade da mídia na política, a eleição de 2008 à Prefeitura de Belo Horizonte constitui um objeto de pesquisa que pode oferecer dados interessantes, uma vez que a mídia, com sua função de mediadora social e, especificamente a imprensa, desempenhou papel relevante para o resultado do pleito. Este trabalho, tem por objetivo, portanto, analisar como o jornal Estado de Minas, periódico mais antigo e tradicional de Minas Gerais, construiu a imagem de Leonardo Quintão (PMDB) por meio de estratégias discursivas que pudessem influenciar na decisão do eleitorado, a partir de aspectos que permitem identificar o posicionamento do jornal em relação à candidatura do peemedebista. Além disso, analisa-se de que forma a cultura da mineiridade foi acionada pelo candidato e qual a posição editorial do periódico, legitimando ou não esse discurso.

A disputa pela prefeitura de Belo Horizonte em 2008 caracterizou-se por dois fenômenos políticos: a histórica e polêmica aliança entre o PSDB, do então governador Aécio Neves, e o PT, do prefeito Fernando Pimentel, partidos tradicionalmente rivais, por não compartilharem diversos aspectos ideológicos. Apesar de pertencerem a partidos rivais, Aécio e Pimentel mantinham um relacionamento amistoso. O outro fenômeno foi a candidatura de Leonardo Quintão (PMDB), que ascendeu de uma posição em que não dava sinais de ameaça à vitória de Márcio Lacerda (PSB) para uma posição de fenômeno eleitoral, que surpreendeu, passando à frente de Jô Moraes (PC do B), que no primeiro cenário liderava as pesquisas e conquistando o empate técnico com Lacerda, com quem disputou o segundo turno.

Quanto à aliança entre PT-PSDB, é considerada um acontecimento político devido ao histórico da eleição na capital mineira, uma vez que as duas legendas apresentaram-se polarizadas nas últimas quatro disputas à Prefeitura, saindo vitoriosa a frente liderada pelo PT desde 1992 e devido ao fato de representarem forças políticas ideologicamente opostas. Tal aliança chegou a ser contestada por ser articulada com base em planos políticos para a eleição de 2010, quando Aécio tinha planos de se candidatar à Presidência da República e Pimentel ao governo de Minas Gerais.

No dia 5 de julho homologaram-se as candidaturas, sendo que as mais expressivas foram as de Márcio Lacerda, Jô Moraes e Leonardo Quintão. Com o início do HGPE em 19 de agosto, Jô, que estava à frente nas pesquisas, tinha menos de dois minutos de propaganda na mídia, o que fez sua campanha despencar. Lacerda utilizou a imagem de seus “padrinhos” políticos, Aécio e Pimentel, cuja parceria, segundo pesquisa do Vox Populi na época, era aprovada por 76% dos belo-horizontinos. Dessa forma, Lacerda alcançou 40% das intenções de voto nas pesquisas de opinião pública, com a expectativa de vencer o pleito já no primeiro turno, apesar das denúncias com envolvimento no esquema do mensalão e críticas ao seu caráter de coadjuvante, sendo chamado por Jô Moraes de candidato “sumidão”, pois o prefeito e o governador eram os protagonistas de sua campanha.

Surgiu, então, o fenômeno Quintão, que tinha o segundo maior tempo no HGPE, mas não era considerado uma ameaça à vitória de Lacerda. Em agosto, o peemedebista trocou de marqueteiro e passou a utilizar estratégias de aproximação direta com o eleitor, através de um sotaque mineiro e um jeito caipira de falar, apelando para a emotividade e adotando o discurso de que seu principal objetivo na prefeitura era “cuidar de gente”. Assim, a sua candidatura começou a crescer e, em 20 de setembro, atingia 20% das intenções de voto, passando a ameaçar a vitória de Lacerda no primeiro turno, que teve como resultado um empate técnico entre os dois principais candidatos: Márcio Lacerda (PSB) – 43,59% – 549.131 votos e Leonardo Quintão (PMDB) – 41,26% – 519.787 votos.

No segundo turno, Quintão passou a ter 15 minutos no HGPE, o que o prejudicou devido à inconsistência e à ausência de substância de sua campanha de apelo puramente emotivo. Além disso, o jornal Estado de Minas foi de grande importância na derrota de Quintão, construindo uma imagem negativa do candidato posicionando-se claramente favorável à candidatura de Lacerda.
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A MEDIAÇÃO DA POLÍTICA MINEIRA NO DISCURSO DO JORNAL ESTADO DE MINAS NA CAMPANHA DE BELO HORIZONTE EM 2008

Douglas Caputo de Castro – Graduando em Comunicação Social – Jornalismo – UFSJ – Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. Luiz Ademir de Oliveira – Doutor em Ciências Políticas – IUPERJ – professor do Departamento de Letras, Artes e Cultura – UFSJ.

Resumo: O artigo investiga se a postura do jornal Estado de Minas (EM) na cobertura do pleito para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2008 foi equilibrada ou não. Analisa também o relacionamento da interface mídia e política. Além disso, recorre à cultura da mineiridade como legitimadora do discurso identitário de um grupo, o que permite identificar o jornal como ator social com influência sobre as escolhas do eleitorado.